O Pombo Manco

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O Pombo Manco é um romance sobre memórias da infância. A época é o final dos anos 50. O lugar é um casarão numa pequena cidade litorânea da Espanha. É para lá que vai o menino Felipe, se curar de uma doença, na ampla residência dos avós. E é trancado na casa, durante o verão de 1958, observando os parentes, as visitas e os empregados que ele descobre muito sobre a vida e muito mais sobre si. Curioso e inquieto como toda criança Felipe fica fascinado quando encontra entre as coisas do seu tio Ramon um cartão postal assinado por um homem onde está escrito "Já sei que é doloroso pedir o que não podem dar e oferecer o que não podem aceitar, mas prefiro essa dor à covardia de não tentar." De tanto ler a mensagem do postal ele acaba decorando o texto ao mesmo tempo em que tenta decifrá-lo. As palavras o confundem tanto quanto a imagem do postal. O desenho de um cão olhando de forma apaixonada para um pombo. Então começa a nutrir sentimentos que o faz descobrir que é um garoto diferente. Diferente como o pombo manco que todos os dias vem passear na sua janela, como se estivesse lembrando-o que ele não era um garoto como os outros, já que existe um tradicional ditado espanhol que diz "Você é mais maricas que um pombo manco". É dessa forma, um tanto alegórica, que o menino Felipe começa a notar os primeiros sinais da sua homossexualidade. A partir do cartão postal o garoto fica fascinado pela personalidade do tio, um boêmio bonitão por quem Mary, a empregada da casa encarregada de cuidar do doente, se sente atraída. É a folgosa Mary quem perturba o garoto mostrando a ele fotos do tio em trajes de banho. Escrito pelo romancista espanhol Eduardo Mendicutti num tom confessional, o livro faz da sutileza o seu prato principal. O momento político, as relações sociais e familiares, a sexualidade na infância. São temas que o livro aborda mas sempre de forma sutil e romântica. Seus personagens são intensos e parecem estar sempre se esforçando para conter sentimentos prontos a explodir. Além da criada Mary e do fascinante Ramon, desfilam no romance personagens como tia Victoria, uma dondoca fútil que viaja pela Espanha recitando poemas de García Lorca ou o louco Ricardo, que se dedica a treinar os pombos. Todos vistos e retratados por uma criança que acabou de descobrir que o fruto do seu desejo é o seu próprio sexo.