Infância e Linguagem

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About this book

A necessidade de rompimento dos velhos paradigmas positivistas e cientificistas das ciências humanas faz Solange Jobim pensar em novas abordagens epistemológicas da psicanálise. É no cinema e na literatura que ela vai buscar os elementos de sua reflexão. Nesse encontro, descobre o compromisso existente entre a ciência e a arte.Solange Jobim faz uma reflexão, a partir da constatação da necessidade de uma nova interpretação das ciências humanas, acerca da concepção de linguagem, tomando como base as teorias desenvolvidas por Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. Nesse sentido, a linguagem é "entendida como espaço de recuperação do sujeito como ser histórico, social e cultural".A partir da observação da dificuldade de responder as questões éticas e estéticas colocadas, no mundo moderno, às ciências humanas a autora procura recuperar o sentido da palavra para também verificar o sentido real de como devem ser tratadas as questões humanas e sociais. A infância também é seu objeto de análise para tentar entender criticamente a cultura do adulto. Para tanto, ela analisa várias falas do cotidiano de crianças de classes sociais diferentes para mostrar como elas constroem a realidade social na sua relação com os outros: aqueles do mesmo meio social ou aqueles de meios sociais diferentes, dos quais elas tomam conhecimento através, principalmente, dos meios de comunicação.Através da análise das falas de crianças e também de adultos, Solange Jobim mostra, por exemplo, a visão que têm, na sua essência, de conceitos modernos como capitalismo, alienação e modernidade. Um dos instrumentos do capitalismo, o consumismo, aparece nas falas das pessoas, provando sua internalização; uma internalização construída pela prática diária no tratamento com o outro, na escola, no trabalho ou mesmo dentro da própria casa, através dos aparelhos de televisão que ela constata estarem presentes na quase totalidade dos lares.O cinema mostra à autora a essência, também, da relação mantida pelo homem moderno com os aspectos de sua sobrevivência. Ela lembra Chaplin em "Tempos Modernos", representando o automatismo experimentado pelos trabalhadores na sua relação com a máquina introduzida no processo produtivo moderno, onde a fábrica ocupou o espaço social do homem.O mesmo choque sentido pelos trabalhadores das fábricas é vivido também, segundo Benjamim, pela multidão que se encontra nas ruas das grandes cidades. Jobim mostra como ele recupera, na poesia de Baudelaire, a relação existente entre o homem da fábrica e a multidão que caminha nas ruas das grandes cidades. Ela utiliza esse exemplo para mostrar como a arte exprime, de maneira fiel, os sentimentos e os comportamentos humanos.Jobim abre sua discussão epistemológica sobre a psicanálise perguntando: "Que conseqüências têm para o aparato conceitual das ciências humanas as descobertas da psicanálise? De que forma uma abordagem que pretende articular a estrutura do psiquismo com a estrutura das relações sociais nos ajuda a avançar na reflexão sobre as questões humanas e sociais, tendo em vista os rumos do capitalismo mundial integrado? A psicanálise pode oferecer subsídios para uma compreensão e para uma interpretação da cultura contemporânea?" Essas questões a orientam na análise da reconstrução da psicanálise como ciência do comportamento humano, resgatando o indivíduo como ser histórico e cultural.As críticas mais contundentes à conduta da psicanálise praticada no cotidiano do mundo moderno é sua fragmentação e sua postura positivista. Para a ruptura de tal postura, Jobim propõe a utilização do método dialético, capaz de dar conta da dimensão social e cultural do comportamento humano, para reformulação de conceitos como o de consciência.Bakhtin formula seu conceito de consciência a partir do conceito de ideologia. Para ele, a construção do inconsciente humano está relacionada à situação de classe ocupada pelo indivíduo; é necessário que o homem tenha um segundo nascimento: o "nascimento social". A consciência do indivíduo é, assim, uma consciência com dimensão coletiva e não individual. O nascimento biológico não é suficiente para o homem, pois que ele é um ser social. O objeto de análise da psicanálise é esse ser social e, portanto, seus parâmetros de análise não devem ser os biológicos, assim como faz Freud.Bakhtin propõe, nesse sentido, o estudo da palavra como instrumento de análise da dimensão ideológica da consciência humana. Segundo ele, o signo lingüístico é construído socialmente e transmite uma ideologia, presente de sua constituição. Nesse sentido, ele faz uma crítica, ainda, aos estudos lingüísticos centrados na idéia de constituição física do signo lingüístico defendida por Saussure.Pasolini e Benjamim, como mostra Jobim, defendem a idéia de que "... o conteúdo ideológico da realidade se expressa nos próprios objetos, coisas, palavras, gestos e que tudo isso se constitui em signos de uma situação histórica e cultural precisa". Ela destaca o papel que tem a arte: ciência e literatura, na apresentação da constituição social do consciente do indivíduo.Solange Jobim trava uma discussão sobre conceitos psicanalíticos desenvolvidos pela psicanálise de Freud e alternativas de interpretação do comportamento humano apresentadas por Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. Uma avaliação centrada na linguagem, numa perspectiva dialética de análise, onde toda enunciação constitui-se num diálogo interior (a comunicação individual) ou exterior (a comunicação com o outro), através das palavras, da mímica ou de qualquer outro veículo de comunicação.Jobim propõe a criação de uma psicanálise que poderíamos chamar de "socioanálise": uma análise centrada na dimensão social e cultural do homem, a única maneira de avançar na criação de paradigmas alternativos ao positivismo e ao cientificismo. Essa psicanálise precisa dar ao homem a autoria de sua palavra e verificar o lugar de seus desejos no confronto com a sua realidade e não, um resultado de sua dimensão psicológica apreendida como produto de seu nascimento biológico.O trabalho com a arte e a linguagem é mostrado por Jobim como o caminho para se atingir a verdade das ciências humanas, cujo objeto de análise é o homem como ser social. O encontro da arte com a ciência pode elucidar, segundo ela, as questões maiores acerca da dimensão do comportamento humano, contribuindo para a formulação dos novos paradigmas. Essa é a avaliação que ela faz em seu texto, escrito de maneira agradável, chamando a atenção do leitor. * Resenha do lvro de Solange Jobim e Souza. Campinas, Papirus, 1994, feita pela Professora Marilene Sinder, da faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense.

Book Details

ISBN13 9788530802622
ISBN10 8530802624
Pages 173
Language PT
Import Source Skoob
Created At January 30, 2025
Updated At January 30, 2025

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