Esperando Zilanda

About this book

"Fazia uma semana que eu estava trancada em casa. Uma sensação de autossuficiência doméstica me dizia que não havia motivo para sair. A rua não teria nada a me oferecer. Eu poderia resolver tudo pela internet ou pedir por telefone. Até sol eu poderia pegar: bastava vestir o biquíni e me estirar no tapete da sala. Daniel estava em Brasília, fazendo treinamento para a cobertura das eleições. É ele que traz o mundo para dentro de casa. Personagens dos jornais viram pessoas reais. Outro dia ele me ligou para avisar que não me buscaria na faculdade porque a Ruth Cardoso havia morrido. É só dessa forma inusitada, porém direta, que as notícias do jornal interferem na minha vida. A morte de uma ex-primeira-dama me fez voltar de táxi para casa. Isso deveria ser suficiente para eu assistir ao Jornal Nacional, mas não é."Nas palavras de Gustavo Bernardo, Tamara Sender tenta captar o óbvio e desnaturalizá-lo, mostrando o absurdo da experiência cotidiana a partir de situações prosaicas. Sua narradora tem dificuldades de "aceitar os limites da vida" porque todo contato com o mundo prático se revela penoso. Ela luta desesperadamente para não lutar, para não tomar parte nesse mundo, assumindo uma atitude estética e se refugiando na escrita de uma espécie de diário e de sucessivos e-mails a um amigo que nunca encontra. O espantoso é que a leitura desse romance não é ela mesma penosa, mas todo o contrário – porque nos revela que não há revelações e, nesse sentido, nos empresta, sem alarde, uma sensação de liberdade suave.